Masp arrecadou R$ 1,5 mi com venda de cavaletes históricos

Instituto do Patrimônio Histórico abriu processo para apurar comercialização de 20 peças projetadas pela arquiteta Lina Bo Bardi, avaliadas em R$ 75.000 cada

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Lina Bo Bardi testa cavalete de vidro para a pinacoteca do Masp em 1967
Copyright Lew Parella via Instituto Bardi
de São Paulo

Os cavaletes de exposição projetados por Lina Bo Bardi, cuja comercialização foi contestada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), renderam R$ 1,5 milhão ao Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). As 20 peças históricas foram vendidas por R$ 75.000 cada um.

O Iphan abriu processo administrativo na 5ª feira (05.jun.2025) para investigar a venda dos cavaletes, que não havia sido comunicada formalmente ao instituto –o que é obrigatório, conforme os artigos 12 e 13 do Decreto-Lei 25/1937.

O processo foi instaurado “para apurar em que situação se encontra, no momento, o conjunto de cavaletes tombados”, segundo o Iphan. Na mesma declaração, o Instituto disse que “o Iphan não foi informado sobre venda de cavaletes originais de Lina Bo Bardi tampouco autorizou a saída de qualquer um deles do país”.

Lina Bo Bardi projetou os cavaletes do Masp para expor obras de arte de forma inédita. Feitos de placas de vidro fixadas em blocos de concreto, os suportes permitiam que as obras fossem dispostas livremente no espaço do museu. A estratégia quebrava o modelo tradicional de exposição, deixando o visitante livre para escolher seu próprio percurso pela galeria.

As peças integram o conjunto museográfico tombado federalmente desde 2008, considerado parte importante do patrimônio cultural brasileiro. O Masp informou que, do conjunto original, restaram 91 estruturas em diferentes estados de conservação,“retirados do espaço expositivo por não mais atenderem aos critérios técnicos e museológicos contemporâneos exigidos para a preservação e apresentação de obras de arte”. Uma nova geração de cavaletes, adequada aos novos padrões, foi desenvolvida em 2015.

O Masp iniciou a venda dos cavaletes em 2022, durante a pandemia, como forma de obter recursos financeiros. Cinco unidades ainda estão disponíveis para a venda. De acordo com a coluna Plástico, da Folha de S. Paulo, um colecionador estrangeiro comprou um dos cavaletes por cerca de US$ 60 mil na feira Art Basel Miami Beach, nos Estados Unidos.

Ao Poder360, o museu disse que a comercialização era necessária “para dar continuidade à programação cultural” diante das limitações orçamentárias daquele período. Também afirmou que o tombamento “ressalta o valor das peças enquanto expressão de um conceito expositivo inovador, e não como bens tombados de maneira individual e autônoma”. O Masp disse que esse entendimento foi ratificado pela equipe jurídica interna e por advogados externos especializados em patrimônio cultural.

O Iphan afirmou que bens tombados só podem sair do país segundo o artigo 14 do mesmo decreto e da Portaria 262/1992, requisito aparentemente não cumprido na venda internacional.

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